Ela chegou sutilmente, me agradando.
Eu gostava. Alimentava-me de ambição.
Facilitava a interpretação do meu personagem.
Tomou conta de mim, dominou meus desejos,
Governou meus quereres, controlou meus pensamentos,
Comandou minhas ações, tiranizou minha alma.
Expôs minhas vísceras à luz mais nítida do dia,
e me fez contorcer de desprazer.
Eu só soube que estava tudo errado
quando minhas atitudes não sustentavam mais
minha leveza.
Tudo o que tinha de mais lindo em mim
terminou por me machucar por dentro e plantar no meu olhar
uma tristeza de horizontes alcançáveis.
Meu personagem tomou conta de mim-atriz.
Vivemos juntas a tristeza que inventei.
Até chegar no fundo de um poço, em que deixei-me trancar.
Ela viveu por mim. Reinou em meu corpo.
Parei. Sufoquei-a.
Jamais saberia que possuía essa força.
Jamais permitirei exercerem o domínio sobre meu ser mais uma vez.
Decidi matar a autora de dramas. (A minha intensidade não podia continuar servindo de tripé para tanta agonia.)
Abri as janelas, respirei, meditei, sonhei, escrevi, cantei, sorri, gargalhei, mergulhei, chorei, amei...
Aprendi a pontuar histórias, delimitar espaços, dissolver conflitos, definir minhas relações, e preservar o resto de sanidade que há em mim.
(Inspirado pela vida, e pela autora Marla de Queiroz)
"A minha intensidade não podia continuar servindo de tripé para tanta agonia" É isso, flor.
ResponderExcluirBrilhante! Te amo.